Como o ChatGPT e outros exemplos de IA conversacionais podem ajudar no ensino e aprendizado

Modelos conversacionais como ChatGPT e outros baseados em IA chamam muita atenção — mas, para que realmente ajudem(ou atrapalhem) o ensino e aprendizado, eles dependem de coisas básica: a interface e um desenho instrucional bem montado. Interfaces bem desenhadas transformam respostas em aprendizagem; interfaces ruins transformam a tecnologia em distração. Neste texto explicaremos o por quê, mostraremos exemplos em uso hoje e daremos recomendações práticas para professores e designers instrucionais.

Os modelos conversacionais

Modelos conversacionais são poderosos em gerar respostas sobre diversos assuntos. Ainda assim, estudos recentes mostram que o benefício para a aprendizagem depende fortemente do contexto e do design instrucional — ou seja, não basta ter um bom modelo; é preciso uma boa interface para transformá-lo em ferramenta pedagógica. Uma meta-análise recente que reuniu dezenas de estudos sobre o uso do ChatGPT na educação mostra resultados mistos: ajudam no ensino e aprendizado quando há desenho instrucional e, principalmente, quando há atividades que exploram o diálogo; e atrapalham quando não há uma interface boa ou quando o aluno possui apenas o desafio de entregar uma resposta comum e que não envolve raciocínio. O aluno que antes usava um google, apenas substituiu por um ChatGPT da vida… O aluno vai pedir respostas prontas, portanto esteja preparado para readaptar o seu modelo de ensino! O Professor tem que fazer um trabalho que chamamos de “scaffolding”. Explicamos isso logo a seguir. Recomendamos a leitura do artigo “The effect of ChatGPT on students’ learning performance, learning perception, and higher-order thinking: insights from a meta-analysis” de Jin Wang & Wenxiang Fan, 2025

O que é scaffolding?

Scaffolding é uma metáfora tirada da construção: são os “andaimes” temporários que um professor oferece ao aluno para que ele consiga realizar uma tarefa que, sozinho, seria difícil demais. No ensino isso vira ações práticas — pistas graduais, perguntas orientadoras, exemplos passo a passo — que ajudam o estudante a desenvolver habilidades até que consiga fazê-lo de forma independente. Depois que a competência aparece, os “andaimes” são removidos.

O que uma “boa interface” faz (e por que isso importa)

Tomando como base pesquisas em design de agentes conversacionais e conceitos clássicos de interfaces educativas, uma interface eficaz para ensino faz pelo menos quatro coisas:

  1. Scaffolding e modelagem de perguntas: guia o estudante no como perguntar e no como pensar, não só dá a resposta — ou seja, fornece andaimagem progressiva. Plataformas como o Khanmigo foram projetadas para priorizar esse tipo de ajuda. Logo abaixo, falaremos um pouco mais dessa ferramenta.
  2. Transparência e controle: mostra o que o sistema fez e por quê (ou oferece opções para o aluno escolher o nível de ajuda), reduzindo a sensação de “caixa-preta” e ajudando na metacognição. Pesquisas recomendam interfaces que revelem o processo (racionalizações curtas, níveis de simplificação). Ou seja, o processo da busca por informação é extremamente importante. Desmerecer esse passo é colaborar com a formação de um aluno que só vai procurar em locais que já dão a resposta pronta. E provavelmente o aluno nem vai ler a resposta, apenas copiar e colar o que a ferramenta deu a ele.
  3. Integração com narrativa/transmídia: usar vários canais (vídeo curto, postagem interativa, fórum) para sustentar a mesma unidade de aprendizagem aumenta imersão e possibilita diferentes caminhos de entrada — ideia ligada ao conceito de transmídia que você já tinha no material enviado.

Khanmigo: um exemplo prático

Khanmigo é a iniciativa da Khan Academy para criar tanto um tutor de EAD quanto um assistente para professores. Nos últimos lançamentos, a Khan Academy apresentou o Khanmigo como um conjunto de ferramentas para educadores que foca justamente em reduzir trabalho administrativo e dar suporte pedagógico — não só em EAD, mas também em sala física. Entre as funcionalidades voltadas para professores estão: gerar planos de aula alinhados a padrões curriculares e diferenciados por níveis; criar quizzes; resumir o desempenho da turma e destacar alunos que precisam de suporte; sugerir discusões para debates presenciais ou em fóruns; e até mesmo ajudar no engajamento dos alunos ao pedir um axilio de como o aluno pode usar o aprendido no seu cotidiano. Isso torna o Khanmigo útil tanto para preparar uma aula presencial quanto para gerir turmas remotas.

Na prática, em sala de aula presencial um professor pode usar Khanmigo para melhorar todo o processo do ensino e aprendizado. No EAD, as ferramentas do Khanmigo ajudam a criar trilhas personalizadas, gerar relatórios automáticos de progresso e produzir feedback aos estudantes. Tudo para que professores economizem tempo de preparação e foquem na mediação pedagógica.

Recomendações práticas (checklist rápido para quem vai projetar ou escolher uma ferramenta)

  • Defina o objetivo pedagógico antes de enviar para o chat (prática, avaliação, reflexão).
  • Defina o público alvo(idade, série e se é aluno especial e qual a especialidade do aluno)
  • Prefira interfaces que ofereçam níveis de ajuda (Dica → scaffold → solução), não só a solução final.
  • Inclua explicações curtas das decisões do sistema (transparência). Vídeos curtos e explicações curtas durante o processo do ensino ajudam e muito como um andaime(scaffolding, como mencionamos)
  • Use multimodalidade (vídeos curtos, mapas mentais e imagens para explicar e guiar).
  • Teste com alunos reais e tente mensurar a usabilidade e eficácia.

Conclusão

A promessa da IA na educação é real — mas o sucesso depende tanto da interface quanto do modelo. Projetar com objetivos pedagógicos claros, transparência, scaffolding e multimodalidade transforma um assistente conversacional em um verdadeiro parceiro de aprendizagem. Como mostrou o material que você me enviou, é a mediação — o jeito como o conteúdo chega ao aluno — que fará a diferença.