Ontem foi a calculadora. Hoje, o “inimigo” é a Inteligência Artificial
Na década de 1960, uma pequena inovação tecnológica gerou grande polêmica nas salas de aula: a calculadora. Professores de matemática viam com preocupação a introdução do dispositivo, acreditando que ele enfraqueceria o raciocínio lógico dos alunos. Durante anos, o uso de calculadoras foi banido em provas e atividades escolares. Parecia inconcebível que uma máquina pudesse fazer parte da educação sem prejudicar o aprendizado.
Com o tempo, a história provou o contrário. As calculadoras se consolidaram como ferramentas valiosas para o ensino de ciências exatas. Hoje, seria quase impossível realizar uma prova de engenharia ou física dentro do tempo previsto sem o auxílio de uma calculadora científica. Em muitas universidades, seu uso é imprescindível para que o aluno consiga se concentrar em resolver problemas complexos, sem perder tempo em contas básicas.
A nova calculadora do século XXI: a Inteligência Artificial
Avançando para o século XXI, encontramos um novo “vilão” tecnológico: a Inteligência Artificial (IA). Ferramentas como o ChatGPT geram debates parecidos aos que a calculadora enfrentou décadas atrás. Professores e profissionais temem que a IA torne os estudantes dependentes demais de tecnologias para pensar, escrever e resolver problemas.
É importante reconhecer que tanto a calculadora quanto a IA podem, sim, tornar o pensamento preguiçoso. Quando usadas como uma muleta constante, essas ferramentas podem atrofiar o raciocínio lógico e crítico, habilidades cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho. A facilidade de obter respostas prontas pode seduzir, mas nunca substituirá a importância de compreender conceitos, analisar contextos e tomar decisões fundamentadas.
Devemos focar no que realmente importa
O papel da tecnologia no ensino não é eliminar a necessidade de pensar, mas sim otimizar tarefas para que possamos focar no que realmente importa.
Veja, por exemplo, o caso de um caixa de supermercado: hoje, dificilmente essa pessoa calculará mentalmente o troco de uma compra de R$137,23 paga com R$200,00. O próprio sistema do supermercado já informa que o troco será de R$62,77. Ser rápido, eficiente no atendimento e oferecer uma boa experiência ao cliente tornou-se mais importante do que fazer contas de cabeça.
O mesmo raciocínio vale para estudantes e profissionais: saber usar ferramentas inteligentes para otimizar o trabalho é tão importante quanto manter o raciocínio afiado para resolver situações inesperadas, interpretar dados e tomar boas decisões.
Calculadora e IA: aliados ou ameaças?
Assim como as calculadoras ampliaram as possibilidades de ensino e aprendizado, a Inteligência Artificial pode ser uma grande aliada. Em vez de combater essas tecnologias, o desafio de professores e alunos do ensino médio e da universidade é aprender a utilizá-las de maneira crítica e estratégica.
O futuro da educação pertence a quem souber equilibrar: raciocínio humano e ferramentas inteligentes. Quem dominar essa habilidade terá uma vantagem enorme no mercado.
Inimigos que viraram aliados ao longo da história
Não é a primeira vez que a sociedade vê uma inovação como uma ameaça. A borracha, por exemplo, já foi considerada a “vilã” que permitiria que alunos errassem sem consequência, apagando seus erros em vez de aprender com eles. A internet, por sua vez, foi recebida com medo de que acabasse com o valor dos livros e destruísse a qualidade da informação. No entanto, aprendemos que a verdadeira ameaça não está na ferramenta, mas no modo como a usamos.
Assim como no passado, cabe a nós integrar a Inteligência Artificial de maneira crítica, responsável e estratégica — transformando o que hoje parece um “inimigo” em um dos nossos maiores aliados para ensinar, aprender e evoluir.
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